Quatorze anos se foram. Um suspiro enorme.
Meu filho é quase um homem.
Não por acaso com certeza - porque o destino não dorme em serviço, ontem recebi um texto de Affonso Romano de Sant'Anna, que fala de uma forma mágica dos momentos que perdemos enquanto os filhos crescem e eu estava perdendo tempo com outras coisas da vida.
Parei.
Por incrível que possa parecer, continuo perdendo este precioso tempo.
Coisas de uma mãe que por muito tempo - sozinha - foi pai e mãe e não podia parar para curtir.
Hoje, meninas surgem, a vaidade me deixa orgulhosa, é um homem bonito, com certeza vai dar trabalho com aqueles olhos verdes! Quero que seja de valores, bom caráter, é o que me interessa, o resto - a casca - some com o tempo.
"Há um período em que os pais vão ficando órfãos dos seus próprios filhos.
É que as crianças crescem independentes de nós, como árvores tagarelas e pássaros estabanados. Crescem sem pedir licença a vida.
Crescem com uma estridência alegre e, às vezes com aladearda arrogância.
Mas não crescem todos os dias de igual maneira.
Crescem de repente.
Um dia sentam-se perto de você no terraço e dizem uma frase com tal maturidade que você sente que não pode mais trocar as fraldas daquela criatura.
Onde é que andou crescendo aquela danadinha que você não percebeu?
Cadê a pazinha de brincar na areia, as festinhas de aniversário com palhaços e o primeiro uniforme do Maternal?
A criança está crescendo num ritual de obediência orgânica e desobediência civil.
E você está agora ali, na porta da discoteca, esperando que ela não apenas cresça, mas apareça!
Ali estão muitos pais ao volante, esperando que eles saiam esfuziantes sobre patins e cabelos longos e soltos.
Entre hambúrgueres e refregerantes nas esquinas, lá estão nossos filhos com o uniforme de sua geração: incômoda mochila da moda nos ombros.
Ali estamos, com os cabelos esbranquiçados. Esses são os filhos que conseguimos gerar e amar, apesar dos golpes dos ventos, das colheitas, das notícias, e da ditadura das horas.
E eles crescem meio amestrados, observando e aprendendo com nossos acertos e erros. Principalmente com os erros que esperamos que não repitam.
Há um período em que os pais vão ficando um pouco órfãos dos próprios filhos. Não mais os pegaremos nas portas das discotecas e festas.
Passou o tempo do balé, do inglês, da natação e do judô.
Saíram do banco de trás e passaram para o volante de suas prórias vidas.
Deveríamos ter ido mais à cama deles ao anoitecer para ouvir sua alma respirando conversas e confidências entre os lençóis da infância, e os adolescentes cobertores daquele quarto cheio de adesivos, agendas coloridas e discos ensurdecedores.
Não os levamos suficiente ao Playcenter, ao Shopping, não lhe demos suficientes hambúrgures e cocas, não lhes compramos todos os sorvetes e roupas que gostaríamos de ter comprado. Eles cresceram sem que esgotássemos neles todo o nosso afeto.
No princípio subiam a serra ou íam à casa de praia entre embrulhos, bolachas, engarrafamentos, natais, páscoas, piscina e amiguinhos.
Sim, havia brigas dentro do carro, a disputa pela janela, os pedidos de chiclestes , cantorias sem fim. Depois chegou o tempo em que viajar com os pais começou a ser um esforço, um sofrimento, pois era impossível deixar a turma e os primeiros namorados.
Os pais ficaram exilados dos filhos. Tinham a solidão que sempre desejaram, mas, de repente, morriam de saudades daquelas "pestes".
Chega o momento em que só nos resta ficar de longe torcendo e rezando muito (nessa hora, se a gente tinha desaprendido, reaprende a rezar) para que eles acertem nas escolhas em busca da felicidade.
E que a conquistem do modo mais completo possível."
Já me sinto órfã deste filho. Inclusive já falei que vou fugir de casa... (brincadeira!)
Mas, brincadeiras à parte, ver um filho crescer e virar um homem não é muito fácil.
É lindo. Mas fácil, não! Já sinto saudades.
Que nada! Logo, logo terei norinhas em casa e terei que adotá-las como filhas... Mas meninas, atenção, só terão tapete vermelho e bolinho na casa "de mamãe" se tratarem ele muito bem, certo??? (rsrsrsrsrs)
Exatamente os filhos crescem e os pais ficam orfans, mas a vida e assim, sempre tem continuidade.Ja passei por isso, hoje e a sua vez Filha. Um grande beijo de sua mae.
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