quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Perdas

Ontem a tarde fui em um velório, dar um abraço numa colega de trabalho que perdeu uma pessoa muito, mas muito próxima. Lá na hora voltaram muitos sentimentos que às vezes ficam guardados - ou talvez apenas escondidos.
Perder uma pessoa que a gente gosta muito de forma inesperada, como foi o caso da colega, é uma experiência que eu já passei e sei bem como dói.Perdi meu pai há 5 anos e a ferida não cicatriza. Às vezes dói menos... mas sempre dói.
Eu sabia que um dia não teria mais meu pai aqui, mas na minha cabeça isso aconteceria na ordem natural das coisas, quando ele estivesse bem velhinho e tivesse vivido muito ao nosso lado. Jamais eu esperava que fosse naquele dia, daquele jeito.
Não gosto de lembrar nem de reviver tudo aquilo, mas foi um pesadelo. Acordei muito tempo depois, pois na hora do susto fui bem "machona", bati no peito e fui forte até demais. Só que chegou uma hora que caí na real, perdi o chão e que meu mundo caiu. Meu pai não!
Meu médico dizia que para amenizar eu tinha que viver aquela dor, aquele luto. Chorar quando tivesse vontade, gritar se quisesse, que eu não precisava ser forte, devia ser apenas eu - humana e fraca - e viver aquela dor o tempo que fosse necessário. Assim eu fiz.
Como eu disse antes, dói e sempre vai doer. A saudade é uma coisa séria... e às vezes, nas horas mais estranhas ela teima em aparecer e lembrar que ele não está mais aqui.
Nestes 5 anos sem o pai, senti a falta da presença dele no meu casamento e na minha segunda gravidez. No casamento, fui entregue ao marido pelo meu filho mais velho - foi um momento lindo - e a minha forma de fazer meu pai presente naquele dia foi entrando na cerimônia com a música que ele mais gostava. Na gravidez e no nascimento do meu segundo filho senti mesmo a falta dele... e hoje muitas vezes penso como ele seria babão pelo pequeno se estivesse aqui porque ele foi um avô maravilhoso para o meu primeiro filho - um pai.
Pai, saudades de você sempre! Mas te deixo seguir adiante, para que eu possa viver em paz...

"Tenho razão de sentir saudade,
tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.

Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enlouqueceu, enlouquecendo nossas horas.
Que poderias ter feito de mais grave
do que o ato sem continuação, o ato em si,
o ato que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada?

Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.

Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste."
Carlos Drummond de Andrade

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