Conforme as pessoas ficam sabendo da nossa mudança, vão repassando e compartilhando textos, experiências, informações. É muito legal.
Este texto foi enviado pela Bibi Iorczeski, que morou 5 anos na Inglaterra.
O mundo está dividido em diversos tipos de pessoas: as que
gostam mais do mar, as que preferem campo. As que esperam o inverno, as que
aguardam com afinco o verão. E existem também as que ficam e as que vão.
Não é fácil ser do tipo que fica, nem do tipo que vai. Por
vezes, quem fica sente vontade de ir, já quem vai, sente uma imensa vontade de
ficar. É difícil entender que não há possibilidade de ter asas e raízes ao
mesmo tempo, ou então jogar a âncora na areia e içar velas. Você faz ou um ou
outro. Algumas raras pessoas conseguem mudar, afinal estamos em eterna mudança,
mas é difícil aquietar algo que já vem dentro da gente.
Aqueles que ficam sentem-se bem assim, e abandonar – pessoas,
lares, cidades, lembranças, é algo muito difícil. Quando a vida os incita a ir,
eles preferem continuar ali. Por vezes, são chamados de acomodados – anos no
mesmo emprego, anos com a mesma pessoa, nunca deixou sua cidade. E a vida, e o
mundo? Esses questionamentos podem mexer com eles, atiçar algo em seus
corações, mas quando olham a sua volta, apenas entendem. Podem ir, desde que a
condição seja voltar, rapidamente. Eles querem ficar.
Ah, as pessoas que vão… Deixem-nas ir. Não significa que
elas não amem, não sintam saudades, não se importem – apenas o coração delas é
grande demais, e elas precisam sempre estar em expansão. Quando enclausuradas,
sofrem muito. Não cabem em escritórios, não cabem em ternos, não cabem em si –
movimento é a palavra de suas vidas. Alguns acham que esse tipo de pessoa é
indecisa, inquieta e até frustrada, pois parecem estar sempre em busca de
respostas. Não. Na verdade, pessoas que vão não se importam tanto com as
respostas – seu combustível é feito pelas perguntas. Questionam o tempo todo,
pensam o tempo todo, observam o tempo todo. Encantam-se pela quantidade de
maravilhas que o mundo pode oferecer, seja em uma cidade da moda como Paris ou
num boteco abandonado de esquina.
Acontece, por vezes, de pessoas que ficam se apaixonarem por
pessoas que vão. Daí a vontade de içar e ancorar, criar raízes e voar, correr e
ficar parado. Eu poderia aqui escrever conselhos, poderia dizer fica, vai,
espera, aceita. Mas nada posso dizer. O amor é movimento, energia, é vida
pulsando dentro e fora de nós, e exatamente por isso é muito pessoal. A única
coisa que me arrisco em falar é: Sinta. Se permita. Amplie o sentimento, não
guarde para si. E aceite o tipo de pessoa que o outro é também. “É difícil
aprisionar os que tem asas”, disse o poeta. Também é difícil arrancar os que
são feitos de raízes.
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